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Novos Escritores Luz no fim do túnel
Por Paulo Lima
Escrevendo desde os 10 anos de idade, Leví Lafetá lançou seu primeiro livro aos 18. Hoje tem 60 e, alguns livros depois, desistiu de bater à porta de editoras para divulgar seu trabalho. Por isso, idealizou um clube para escritores novos, o CEN, por meio do qual poderá tirar do limbo os aspirantes a um lugar no mundo as letras.
Mineiro de Coração de Jesus, Leví foi morar aos 14 anos no Rio de Janeiro. Hoje está estabelecido na cidade de Vila Nova de Gaia, um distrito do Porto, Portugal. No currículo, Leví Lafetá carrega as profissões de advogado, administrador de empresas, radialista e jornalista esportivo.
Embora com uma incursão pela política (foi candidato a vereador e deputado federal pelo Rio de Janeiro), Leví aposta mesmo é na literatura. Com seu novo projeto, o Clube de Escritores Novos (CEN), espera já de saída reunir 50 escritores. Leví falou ao Balaio de Notícias sobre a gênese e o funcionamento do Clube e, naturalmente, sobre literatura.
BN - Como surgiu a idéia do CEN-Clube de Escritores Novos?
Leví Lafetá - As dificuldades que o escritor iniciante encontra para lançar o seu livro continuam sendo muito grandes.Veja bem, estou com 60 anos de idade, comecei escrevendo aos 10 anos e com 18 lancei a minha primeira obra. Mas, só foi possível lançar porque um irmão trabalhava em gráfica e, depois do expediente, imprimiu 200 exemplares, através daquelas impressoras antigas – letra por letra – do meu livro Eu e você. Nessa ocasião eu já havia deixado a minha cidade natal Coração de Jesus (Minas Gerais) e morava no Rio de Janeiro.
Recebi os meus exemplares e fui mostrando às editoras cariocas para ver se imprimia uma edição com 1000 exemplares. Decepções e mais decepções e humilhações. Até ouvi de um editor que eu devia pensar era em estudar e que já existiam muitos escritores para poucos leitores. Anos depois, através de amigo, consegui, através da Livraria dos Esperantistas, a edição do livro Eu, você... e a vida. Ufa!! Mas era difícil pagar as prestações da edição.
Eu não sabia como vender os exemplares. Com muito custo consegui uma noite de autógrafos que só veio aumentar as minhas dívidas. Como todo iniciante, pensei que fosse vender todos os exemplares e assumi inúmeros compromissos financeiros. Tomei conhecimento de que o Ministério da Educação e Cultura ajudava os autores novos comprando as suas obras. Fui ao encontro da senhora de nome Salvadora, que era a chefe do Banco do Livro, para me comprar os exemplares que já ocupavam lugar em minha casa. Ledo engano, ela me respondeu que não era possível naquele momento. Dez meses depois de ter preenchido uma ficha cadastral, recebo um telefonema para comparecer ao Banco. Lá chegando de peito estufado de emoção recebi a seguinte proposta: “Olha, estamos com um resto de verba que não podemos devolver e queríamos saber se quer vender os seus exemplares”. Disse que sim. Mas, o valor que eu recebi não correspondia nem a 20% do valor dos exemplares. Então, continuei tentando melhorar a maneira de apresentar as minhas obras na esperança de vê-las bancas das livrarias para que todos pudessem folhear.
Certa ocasião, coloquei os exemplares da terceira obra em várias livrarias e passava de mês em mês para saber como estavam as vendas. E a frase que eu mais ouvia era. ”Tem certeza,menino, de que você deixou aqui para vender?” E voltava dias depois e o funcionário dizia: “Encontrei os exemplares, estavam lá no porão, no depósito”. Assim aconteceu com os cinco primeiros lançamentos.
E no sexto, em 2001, foram contratadas uma editora e uma distribuidora.Como última experiência, autorizei por escrito que somente 500 exemplares fossem impressos. A editora e a distribuidora providenciaram a noite de autógrafo, quando foram vendidos mais de trezentos exemplares. Resumo: até hoje não me prestaram conta e continuam vendendo a minha obra em várias cidades do Brasil. O CEN – Clube dos Escritores Novos surgiu para sanar todos essas injustiças com os autores novos.BN - Como o clube será financiado?
L.L - Muito simples. Todos nós pagamos consórcios para bens materiais. O CEN é uma espécie de consórcio. Mas, quais as vantagens? O Autor lançará, inicialmente, 500 exemplares que estarão vendidos em três meses. No site www.cen.com o escritor vai se promover e continua a vender os seus exemplares através da Livraria CEN . Não há a menor possibilidade do livro ficar no porão das livrarias. Vamos criar encontros anuais dos autores como se fosse uma feira dos nossos livros. No final, acredite, formaremos um grupo tão forte que as pessoas passarão a se comunicar e trocar conhecimentos. E de repente pode até sair casamento (risos). Com seis meses de funcionamento, vamos lançar o categoria de sócio leitor, que pagará uma pequena mensalidade e receberá,todos os meses, uma obra dos nossos escritores.
BN - O clube será aberto somente a autores de língua portuguesa?
L.L - Inicialmente, será para aqueles que nasceram em países que falam a nossa língua. Já estamos em Portugal, na cidade do Porto, fazendo os primeiros contatos.
BN - Quantos membros pretende reunir inicialmente?
L.L - Dentro do planejamento, temos que iniciar com, apenas, 50 escritores. Pois queremos mostrar como funciona e não deixar dúvidas naqueles que sofrem para fazer parte da literatura. O que eu senti não desejo a ninguém.
BN - A menção a “escritores novos” tolherá a participação de escritores mais velhos que não tenham ainda obtido publicação junto a alguma editora?
L.L - Sim, os escritores é que são novos na literatura e não um clube. Será somente para jovens que querem escrever e lançar livros. Afinal, a nossa idade está no nosso espírito. Veja, quantos aposentados estão pelo mundo procurando algo para preencher o tempo! Quer algo mais lindo que os da melhor idade escrevendo e colocando à disposição de todos as suas experiências?
BN - Você lançou seu primeiro livro aos 18 anos. Qual tem sido sua relação com as editoras desde então?
L.L - A relação é de uma maneira com o pé atrás. Hoje, no Brasil, um dos melhores negócios é a edição de livros. Como um autor vai controlar as suas vendas? Falam tanto em CDs piratas, mas o governo esquece das piratarias organizadas que são as editoras que não prestam contas aos autores. Mas, infelizmente, temos um Ministro da Educação que é cantor e um outro que é médico e assumiu o Ministério da Fazenda.
BN - Em sua opinião, o critério mercadológico é o que mais pesa na decisão das editoras para publicar um livro?L.L - Nada disso, as editoras nunca levaram prejuízos. As feiras que levam milhares de pessoas são, nada mais, nada menos, a reunião das editoras que tomaram conta do mercado e colocam goela abaixo os seus autores.
BN - As feiras de livros e bienais são importantes para os escritores?L.L - Não, elas não representam a verdade. Eu nunca fui convidado. Fui convidado, sim, para pagar para que a minha obra apareça. As editoras ganham de todas as formas.BN - Elas ajudariam os novos talentos? L.L - Nunca ajudaram e não vão fazer isso agora. O que vai acontecer é que com o CEN muitos autores vão aparecer e elas irão atrás do que já está divulgado.Todo escritor tem que bancar as sua obras no inicio. Mas, bancam e depois não agüentam porque o marketing tem que ser forte. No CEN o escritor terá isso para sempre sem haver necessidade de se humilhar diante dos donos das editoras.BN - Qual a sua opinião sobre fenômenos como Paulo Coelho?
L.L - Aprendi que marketing é uma mentira repetida. Um Paulo Coelho nunca chegará a um Machado de Assis que viveu numa época em que não existiam as fantasias da propaganda. A sociedade tem a sua culpa. Eu ainda prefiro me inspirar num Castro Alves, Machado de Assis e outros da sua época. Desculpa, mas tem muita gente escrevendo livros com a mão dos outros.
BN - Com o avanço de novos acessos à informação, como a Internet, qual será, na sua opinião, o futuro do livro?L.L - O livro ainda terá por muito tempo o seu espaço, como é agora. Aos poucos vão passando para a Internet. Não agora porque nem todos conseguem um computador à sua disposição. No Brasil de mais de 160 milhões de pessoas, apenas 10 milhões conseguem chegar diante de um computador. O que vai chegar primeiro é o livro em CD ou DVD. E já é uma idéia do CEN-Clube dos Escritores Novos.
BN - E qual o papel da literatura no mundo de hoje?L.L - A literatura sempre teve o seu papel importante, mas, infelizmente, na literatura, começaram a surgir os “chitãozinhos “. Assim, tem muita gente enganada e seguindo caminhos deturpados lendo verdadeiras coisas que não podemos considerar literárias. Isto,também, pode ser considerado um tipo de violência. Entretanto, quando você escreve um livro denunciando violências e o Governo toma conhecimento e nada faz é,também, uma maneira de criar uma outra violência, porque você não foi ouvido. Dou como exemplo o meu sexto livro, Vergonha de ser honesto, através do qual denunciei as violências praticadas por juízes,desembargadores, jogadores de futebol, dirigentes, vereadores contra o Brasil e nada aconteceu depois que no dia 21 de Fevereiro de 2001 levei ao conhecimento do Senado. Então,significa que a omissão do governo é para não promover um escritor.
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