O Ceará Sporting Club e o Fortaleza Espore Clube continuam nas mãos de
pessoas boas, honestas, mas despreparadas para soerguerem o futebol alencarino.
Não, não mil vezes não, futebol não se ganha só porque tem folhas de talões de cheques.
Voltemos o tempo, vamos encontrar a história dos dirigentes de futebol carioca
Castor de Andrade e Emil Pinheiro. Todos dois conhecidíssimos, nas suas épocas,
como os maiores bicheiros do Brasil. O primeiro Presidente do Bangu Atlético
Clube e o segundo do Botafogo Futebol e Regatas. As carradas de dinheiro dos
dois só serviram para conquistarem dois títulos carioca. O Castor, com dinheiro
saindo pelo ladrão, pagava "bicho" (gratificação) até por gols em
treinos. Os melhores jogadores poderiam ser transferidos para Moça Bonita. E o
Emil Pinheiro não ficava atrás. Então, nos dias de hoje, criou-se no futebol
cearense uma balela de que para ser Presidente das duas maiores forças -
Fortaleza e Ceará - principalmente o Presidente tem que ter dinheiro. O que se
vê no momento crucial é que o Icasa da Terra de Padre Cícero tem a menor folha
de pagamento e tem amplas possibilidades de se classificar para passar para a
primeira divisão. Enquanto os dirigentes Leoninos continuam contando estória (sem
"h") de que Presidente tem que ter dinheiro. Estou há quarenta anos
no futebol e nunca vi dirigente colocar dinheiro em clube.Excetuando clubes amadores. O que
acontece, como foi com Castor de Andrade - pessoa que fui assessor nos assuntos
esportivos quanto à regulamentação e transferências de jogadores - e Emil
Pinheiro que precisam tá na cara, de dar uma "mexida" nas suas
economias.
Fortaleza e Ceará
tiveram grandes presidentes que administraram os seus respectivos clubes com a
força de suas torcidas.O torcedor é quem manda e é ele que banca um bom time.Mas, precisa saber montar um bom time.Todo clube profissional devia publicar o balanço mensal. O torcedor paga e deve exigir transparência.Afinal, ele é o cliente e que merece todo o respeito.Eis porque defendo a tese de que todos da Diretoria deveria ser bem remunerados. Um clube sério tem que exigir de seus diretores,no mínimo, oito horas por dia. Impossível continuar aceitando Diretores e Presidente que aparecem no clube para reuniões após as vinte horas. Claro está, nunca veremos as suas empresas se afundarem. Vocês já viram,caros leitores, ao final de ano um Presidente de clube chorar porque a sua empresa faliu? Não,pelo contrário, ouvindo uma emissora cearense um ex-presidente do Fortaleza respondeu ao radialista: " Não,por agora não quero voltar a ser presidente porque primeiro tenho dar continuidade ao sucesso das minhas empresas com as diversas construções que estou fazendo". Ora, o que ele respondeu: " por agora não quero..." . O que demonstra a tranquilidade em voltar mesmo tendo fracassado na sua administração clubística.
O Fortaleza, em 1983, tinha como Presidente um Senhor
simples chamado Nilton. O seu patrimônio era um restaurante. Entretanto, ele
tinha a humildade de ouvir as pessoas e colocou ao seu lado o saudoso Ney
Rebouças. E o "galego”, como era conhecido o Ney, sabia também escolher as
pessoas certas para desenvolver o trabalho que era conquistar o bicampeonato
cearense. Foi ao Rio de Janeiro e me contratou e no Ceará contratou Hamilton
Araújo. Pronto, o time que jogaria fora das quatro linhas estava formado por:
Nilton, Ney Rebouças, Leví Lafetá e Hamilton Araújo. O galego me desafiou para
que montasse uma equipe sem contratar muitos e ganhasse o título. O Hamilton
Araújo ficava na parte administrativa dando uma cobertura perfeita. Então,
contratei o treinador Paulo Emílio, o Preparador Físico Haroldo Ledo. Todos
dois de nível alto dentro do futebol. Os jogadores contratados foram: Tadeu
(Fluminense), Wescley, Edson, Serginho (todos do Botafogo), Luizinho das Arábias
(Campo Grande-RJ) e Urigueler (Grêmio-RS). Durante o campeonato o Urigueler se
desentendeu com o Ney. Era a estrela maior e considerado o entortador. Tivemos
sorte e trocamos o Urigueler pelo Marquinhos do Vasco que tinha acabado de
vestir a camisa da Seleção Brasileira. E mais tarde, depois do campeonato, o
Luizinho das Arábias foi transferido para o Bangu e com o dinheiro contratei o
Wagner do Palmeiras. Resultado: fomos bicampeões aproveitando jogadores do
Estado e principalmente das categorias de base do tricolor de aço.
Em 1991, novamente
fui chamado por Ney Rebouças. E contratamos: Rui Guimarães (treinador que havia
acabado de treinar o Cruzeiro - MG, Paulo Sérgio, Carlos Alberto, Osmar (todos
do América do Rio), Mirandinha (Corinthians Paulista), Josimar (ex-seleção
brasileira), João Cláudio (Bangu AC-Rio de Janeiro) e Heider (Cruzeiro)). Mais
uma vez aproveitamos jogadores cearenses e da base como Eliezer, Silvio,
Expedito e outros. Nenhum jogador pertencia a empresários de futebol. Íamos
diretamente falar com os presidentes dos clubes. E o bicampeonato veio. Sim, ia
me esquecendo do principal de lhes dizer, leitores amigos, que o Presidente foi
o saudoso Dr. Mulatinho pessoa organizada e que exercia a advocacia.
Um detalhe
importante, o Mirandinha estava insatisfeito no Corinthians e conseguimos o
empréstimo com o falecido Vicente Mateus. E o interessante é que o Fortaleza
não tinha dinheiro para pagar o empréstimo. Conversamos e ,caso inédito, o
Mirandinha ainda vinculado ao Corinthians foi liberado para fazer um amistoso
no Presidente Vargas e o arrecadado foi o suficiente para pagar o empréstimo. A
seguir, o seu contrato foi feito de uma forma onde entrou o torcedor Mirandinha
que aceitou receber salários e mais um percentual nos jogos que
participasse.
Em 1993 - Os Senhores
Paulo Magalhães e Flávio Novaes foram ao meu encontro no Rio de Janeiro e me
pediram uma estrela. Indiquei o maravilhoso atacante Elói que encheu de alegria
os corações tricolores.
Em 1995 - Fernando
Silva, ao se candidatar à Presidência do Fortaleza, declarou que se ganhasse eu
voltaria a ajudar o Fortaleza. Ganhou as eleições e fui contratado pelo próprio
Fernando Silva. Este sim colocou dinheiro no clube e nunca pediu nada de volta.
Forças ocultas não o deixaram terminar o mandato. Pessoas que esperaram a
recuperação do clube, dentro e fora do gramado, para darem o golpe na calada da
noite. Fatos curiosos aconteceram no mandato do Fernando. O atacante Washington
- aquele que jogou no Fluminense - foi imposto por um Conselheiro e o seu
contrato foi assinado em cima de um automóvel estacionado em frente a um restaurante.
Comemorou-se em seguida com muita bebida e muita comida. Belo exemplo! Esse
mesmo Conselheiro, me contrariando , contratou César Morais para treinador. O
"Guri" não estava bem de saúde e não desempenhava bem o seu papel.
Perdemos para o Ferroviário por 3 x 1 e a torcida incitada por outro
Conselheiro passou a gritar "fora Levi". Sai do estádio protegido por
12 policiais. Na segunda feira, levei cusparada no rosto. Fui ao encontro do
Fernando Silva e disse: Tira o César e contrate Danilo Augusto (o baratinha).
Fernando respondeu: Você quer que a torcida nos enforque? Eu disse tem que
resolver logo, porque quinta já tem jogo. Ele acreditou e foi a maior prova que
tive não ser cego em futebol. Tirei Danilo - um dos melhores treinadores que
conheci de perto - das categorias de base do Ferroviário e com ele ficamos
invictos 17 partidas. E contratamos dois jogadores de nomes: Vivinho (Vasco) e
Willian (goleiro do Botafogo). O elenco com mais de 25 jogadores. Os cearenses
tiveram vez.
Faço parte daqueles
torcedores que torcem por um clube no seu estado e tem outro no eixo Rio-São
Paulo. Além de torcedor do Vasco, torço e sou sócio do Fortaleza Esporte Clube.
E todas as vezes que fui convocado para dar títulos ao Leão quem me pagou foi
Ney Rebouças e Fernando Silva. Nunca recebi um centavo do Leão do Pici.
Infelizmente, não
vejo com bons olhos o futebol cearense para os próximos três anos, se
continuarem dizendo que para ser Presidente precisa ser rico. Afirmo, nos dias
de hoje é muito mais fácil montar um bom time para ganhar títulos e não passar
o vexame diante de 55 mil torcedores.