Recordando

quarta-feira, 24 de julho de 2013

ADEUS PEDRO II




  

Adeus querido Colégio Pedro II.
Agora quem fala é o coração.
As lágrimas me tiraram a voz
Neste adeus que me emociona.
Pedro II: pedaço de leito na vida!
Somos rios andando com muita luta
Até o mar: nossa vitória.
Pedro II: você faz parte do meu leito.
Nesta vida também sou m rio.
Jamais me esquecerei de você, Velho.
Pois minhas águas tornaram-se claras.
A minha passagem foi um impulso
Dado para eu chegar ao mar.
Nele encontrarei peixes, ou
Melhor, terei felicidades.
Minha vontade é de sozinho
Conversa com o querido Colégio.
Mas como, se nunca está só!
A não ser que o encontre na madrugada.
Sim, na madrugada,
Despediria de sala em sala
Vendo todas as carteiras vazias
E os quadros negros sem lições.
Não acreditando que aqui vivi
Tanto tempo e agora já me vou.
Mas a saudade me invadirá.
Tenho certeza de que não aguentarei.
Meu corpo tombará, pelo adeus.
Melhor é deixar o coração despedir.
Só ele sabe o quanto gosto daqui.
Como, se meu peito está molhado!

Pois meu coração também chora. 


(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)

Ministério Público e o Secretário de Cultura de MG,por onde andam?

Coração de Jesus - Minas Gerais - O prédio de dois andares na Praça da Matriz continua sendo destruído pelo tempo e os transeuntes correndo perigo com o risco de ferros e concretos antigos caírem nas suas cabeças. Será que foi vistoriado pelo Corpo de Bombeiros?Há anos,o Estado de Minas Gerais pediu emprestado para funcionar uma Escola e depois o abandonou. A sociedade brasileira gostaria de saber quem vai assumir a responsabilidade por um possível acidente? Com a palavra o Senhor Secretário de Cultura do Estado de Minas Gerais, o Senhor Representante do Ministério Público desta Comarca e o Corpo de Bombeiros?
 Caso não sejam tomadas providências legais,dentro de trinta dias,é sabedor que será proposta competente ação para dar tranquilidade à população.O mais grave é que parte do prédio foi invadido por uma Fundação que teve,não se sabe como, um estatuto aprovado pelo representante do Ministério Público onde,em determinada cláusula, o antigo Prefeito poderia lhe presentear com o bem que nem lhe pertencia e nem mesmo ao Município. Ou seja, faria com que voltasse a pertencer o município e repassaria à uma Associação que não se sabe se tem cumprido com todas as suas obrigações.Mas,será que o Corpo de Bombeiros concedeu alvará de funcionamento! A população, sem explicação, fica calada ao ouvir de 2004 a até a presente data o nome de uma só pessoa como presidente. Ora,uma Fundação deveria,mais não tem sido assim, fiscalizada pelo mesmo Ministério Público que aprovou o Estatuto. 
Vejam, senhores leitores, o estrago que o tempo está fazendo ao prédio de valor histórico inestimável  e levando perigo de vida aos que por ali passam e circulam dentro do prédio.




























terça-feira, 23 de julho de 2013

TUDO É POSSÍVEL.



Aos sábados, à mesma hora, a fila de pobres esperava a esmola da casa comercial. Todo final de semana a firma separava uma certa quantia para distribuir aos pedintes.
O encarregado – o gerente – da distribuição cumpria religiosamente uma tradição que vinha de pai para filho.
Com o passar dos tempos surgiu na fila um que se tornou mais simpático, por nunca virar as costas depois que recebia a sua parte. Ficava palestrando com os empregados. Certa vez espantou a todos ao convidar o gerente para almoçar em sua casa. O convite foi transformado, por muitos, em brincadeira.
No sábado seguinte novamente foi convidado, mas conseguiu desvencilhar-se do pobre.
- Vejam ir almoçar em casa dele!
- Por que você não vai?
- Sei lá que tipo de comida me dará!
Depois de muitos incentivos resolveu ir conhecer a mansão.
Cinco para as doze – horário combinado – conferia o número da casa. Bateu num portão velho de madeira e segundos depois apareceu uma menina, com seus dezessete anos. Ficou engasgado pela beleza feminina.
- Pode entrar, o papai o espera na varanda.
Mal sabem como andou. Sentado confortavelmente numa cadeira de descanso encontrou o mais recente amigo. Foi apresentado à esposa e filha. Parado,estático e confuso ficou a cada minuto que passava.
- Sei que deve estranhar ao ver minha casa bem arrumada com minha esposa e filha. Bem, eu consegui vencer na vida pedindo e sempre encontro alguém para dá.Juntei as esmolas,comprei esta casa montada e hoje sou feliz no meu lar. Oh! Beba o aperitivo para almoçarmos.
E o almoço foi servido.
Continuou o mendigo:
-Então você acha que com o seu ordenado, por exemplo, eu posso conseguir tudo? Nunca meu caro. O máximo que posso ganhar, com minha pouca cultura, é um terço do seu. Não vê você, sendo gerente, mora pensão que aos domingos não serve refeições.
Depois de um suculento almoço, veio boa sobremesa. Um bate papo, um pouco de música e depois as despedidas com a promessa de voltar sempre.
A semana pensativa. Chegou ao trabalho e comentou com os colegas e poucos foram os que acreditaram.
Nos domingos seguintes passou a fazer refeições em casa do “bacana”. A menina enchia os olhos e o pai não deixou de ir aos sábados saber se ele almoçaria de novo e também levar a esmola.
Depois de várias visitas, criou coragem e conversou sobre a filha; ela já agradava bastante. Demonstrou com palavras a disposição de esposá-la.Com calma, o homem de duas caras, ouviu atentamente até o final do pedido. O rapaz estava louco de amores pela linda moreninha. O namoro já fazia seis meses. Ela concordara e só faltava a palavra final do velho, pois nela saberia do sim ou do não aos pés do altar.
Olhando bem para o candidato à filha, disse que poderia casar quando possível, mas só que deixasse o emprego e fosse com ele pedir esmolas. O rapaz relutou. A menina estava do lado do pai. O quase ex-gerente ficou maluco. Não dormia e nem comia direito e mal podia acreditar que a namorada concordara com o pai.
Num belo domingo começara de novo a conversa sobre o futuro dos dois e o pobre rapaz viu que o velho não estava brincando.
- Bem, meu caro sogro, já que o meu emprego não dá para pagar nem...


E as ruas ganharam mais um pedinte e a firma perdeu um gerente.

(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)

ONDE VIVEMOS!



Quem não sabe que o mundo é mau! Quanto horror nos seus fingimentos, e a verdade sempre última à espera que seja a primeira.
Artistas! Sim, somos artistas num mundo falso em que vivemos numa peça encenada: a vida. Humilhados seremos se artistas não formos. Feliz daquele que ouve perguntas, todas no seu sentido. Ninguém o vê. Elas, análises frias para a realidade. A humanidade ficará como um animal acuado a um canto com medo de algo lhe fira. Ele trabalha no cenário de sua vida e, com receios, outros continuam acuados. Poucas palavras, muita ação e vitória. Quem consegue? – Seu íntimo forte. Isto não é o que eles veem, e perguntas são para vê-lo.
Diplomaticamente continua a sua vida. As vitórias: condecorações que levarão ao túmulo.
A verdade torna-se mais clara: aqui estamos numa longa viagem e a vida é apenas uma parada. 


(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)

domingo, 21 de julho de 2013

Experiência de vida.




É tarde, quase meia noite, eu vagava pela rua.Volto para casa. Foi uma noite cansativa! Andei pensando no passado, no presente e no futuro. Ao chegar,tudo é silencio.Abro a porta do edifício,acendo a luz do enorme corredor e ando com sacrifício. O corredor torna-se maior. Depois de alguns minutos chego ao meu apartamento e a luz apaga. Com o automático se restabelece. Apanho as chaves no bolso e tremulo abro a porta. A tremura: uma pequena amostra de sofrimento. Primeiramente avisto a minha querida mesa de trabalho, onde faço até um simples cabeçalho. Sento-me em sua cadeira, olhos os livros e começo a lembrar. Quanta saudade sinto! Abro um por um. Encontro um – escrito por mim – que mais chama a atenção. São poesias que há muito escrevi. A musa não mais existe. Elas foram tiradas do fundo do coração em desabafos. Nessa gaveta à esquerda encontro velhas cartas. Olho-as demoradamente,ás vezes encontro duplicatas.As mulheres vivem e enganam igualmente e nós homens...pobres animais! Até as mesmas palavras, o mesmo sentido, remetentes diferentes. Estas coincidências me apavoravam. Os calos não ardem mais, já sei onde ponho os pés. Quando acontece,eu rio.Olho o relógio.Oh! Já é tarde, quase amanhecendo. Preciso me arrumar para dormir e continuar na luta.

(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)

CHEGANDO AO FINAL.





“Da minha cadeira de balanço, onde estou descansando, vejo a chuva que torrencialmente cai. Num intervalo de uma tragada no meu grosso cigarro de palha, eu delicio de uma vida despreocupada, quase juvenil. Um frio pouco intenso, eu, à beira de uma fornalha, descanso dos anos anteriores. Enfim, hoje, calmo aqui sentado, vejo a vida diferente. Ela me ensinou a ser bom quando alguém merecia, e também a castigar. Na juventude, bobo como todos nesta fase, tive ilusões com o sexo oposto. Não tive mais por me despertar em tempo. Esfrego as mãos para defendê-las do frio, sinto que nada tenho nos dedos, a não ser o anel de formatura. Tenho minha cabeça como algodão. Estes cabelos custaram a vir, só de poucos anos para cá apareceram. Levanto, vou à janela, passo a mão na vidraça e vejo relâmpagos misturados com a chuva. Lá o pasto, as montanhas bem ao longe, onde longos anos vivi caçando. Agora só tenho o prazer de olhar. As pernas eram fortes, disposição não faltava. Tudo parece impossível. Aqui ao lado da casa, uma enorme árvore sabe muito de minha vida. Muitas vezes passei tardes recostado ao seu tronco, com o violão em punho, fazendo canções. Volto à minha cadeira com novo cigarro. Mal posso andar. Sinto a minha hora chegar. Devíamos viver até certo tempo, para não sentirmos tanto o peso dos anos! Mas tenho que ser forte e não covarde. Muitos passaram por isso. Não sei quando chegará a minha vez. Pode ser hoje ou daqui a anos, ou nem dure meses, ou nem, termine de fumar. Que morte agradável seria! Ele preso em meus dedos, a ultima tragada no ar em fumaça e minha vida seguindo sua trajetória.”  

(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)