Recordando

domingo, 21 de julho de 2013

CHEGANDO AO FINAL.





“Da minha cadeira de balanço, onde estou descansando, vejo a chuva que torrencialmente cai. Num intervalo de uma tragada no meu grosso cigarro de palha, eu delicio de uma vida despreocupada, quase juvenil. Um frio pouco intenso, eu, à beira de uma fornalha, descanso dos anos anteriores. Enfim, hoje, calmo aqui sentado, vejo a vida diferente. Ela me ensinou a ser bom quando alguém merecia, e também a castigar. Na juventude, bobo como todos nesta fase, tive ilusões com o sexo oposto. Não tive mais por me despertar em tempo. Esfrego as mãos para defendê-las do frio, sinto que nada tenho nos dedos, a não ser o anel de formatura. Tenho minha cabeça como algodão. Estes cabelos custaram a vir, só de poucos anos para cá apareceram. Levanto, vou à janela, passo a mão na vidraça e vejo relâmpagos misturados com a chuva. Lá o pasto, as montanhas bem ao longe, onde longos anos vivi caçando. Agora só tenho o prazer de olhar. As pernas eram fortes, disposição não faltava. Tudo parece impossível. Aqui ao lado da casa, uma enorme árvore sabe muito de minha vida. Muitas vezes passei tardes recostado ao seu tronco, com o violão em punho, fazendo canções. Volto à minha cadeira com novo cigarro. Mal posso andar. Sinto a minha hora chegar. Devíamos viver até certo tempo, para não sentirmos tanto o peso dos anos! Mas tenho que ser forte e não covarde. Muitos passaram por isso. Não sei quando chegará a minha vez. Pode ser hoje ou daqui a anos, ou nem dure meses, ou nem, termine de fumar. Que morte agradável seria! Ele preso em meus dedos, a ultima tragada no ar em fumaça e minha vida seguindo sua trajetória.”  

(Do livro FRAGMENTOS, de Leví Lafetá - Edição 1968)

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