A manhã de sábado começou
com um lindo Sol. Ia descendo a Avenida Monsenhor Tabosa e encontrei o
Hércules, Confesso, era muito cedo, menos de sete horas, não esperava encontrar
pessoas conhecidas. A caminhada que eu havia programado, a conselho de um Professor
de Educação Física, ficou para depois. Tive que escutar o meu amigo.
- Bom dia, como vai Leví?
- Bom dia, Hércules. O
que faz tão cedo por estas bandas?
- Ora, acordei e resolvi
me relaxar um pouco e tentar esquecer a data de amanhã.
- Como, não entendi!
- Não, Leví, amanhã, uma
das minhas filhas adotivas completa 31 anos.
- Como filha adotiva?
Você não é pai de um rapaz e duas moças?
- Nada disso, por muito
tempo eu achei que eram meus filhos. Mas, depois que me separei fui tremendamente
maltratado, humilhado e relegado a oitavo plano pelos três. Ora, eu nunca os
maltratei! Tudo que pude fazer fiz por eles. Para não lhes tirar os status os
deixei morando naquela mansão e só agora estou providenciando o divórcio. Sim,
agora que todos estão bem de vida posso vender o que consegui com muito
sacrifício.
- Vamos lá, homem me
explica o termo adoção.
- Leví, antes do DNA
existiam mais infidelidade conjugal do que hoje. Quando notei que nenhum dos
três parecia comigo, comecei a desconfiar. E quando eram pequenos, ao cortarem
o cabelo me davam sempre um pouco dizendo que era para eu guardar de
recordação. E no ano passado, depois de ter mais uma decepção com a que fará
anos amanhã, eu resolvi fazer os exames de DNA e o resultado foi que sempre fui
pai adotivo e nunca pai biológico.
- Hércules, eu pensei que
eu tinha problemas, mas os seus são bem piores. E você levou ao conhecimento
deles?
- No ano passado, exatamente em agosto, eu
escrevi para essa aniversariante de amanhã e ela fingiu que não acreditou. A
mais velha, que já até casou e é mãe, já havia me dado demonstrações que já
sabia porque se desligou totalmente de mim. Inclusive, havia me desejado uma
morte com o avião caindo quando em eu viajasse. O mais novo nem se fala. Este
mesmo que não tem nada a haver comigo. Mas, o mais interessante é que a mãe
deles sempre me xingava e de repente apareceu grávida do menino. E veja como
são as coisas. Os nomes das meninas foram escolhidos pela minha irmã, mas o do
menino a mãe fez questão de colocar o meu nome. Ora, Leví, como colocar o meu
nome se ela vivia me criticando! Ela me criticava porque, mesmo ganhando como
professora me contrariava ao se enveredar a caminho do Paraguai
passando poluía a nossa casa com sacas e mais sacas de produtos contrabandeados.
O meu nome no filho dela, talvez, tenha sido uma maneira de eu não desconfiar.
Mas, a ponte caiu com os resultados do DNA.
- Hércules, estou pasmo!
- Nada disso, Levi,
apenas não posso riscar o dia 09 de novembro. Mas, já superei e espero que
sejam felizes e que o pai da aniversariante de amanhã vá abraçá-la e lhe dê de
presente a verdade confessando: “sou o seu pai”. Porque eu sempre tive o maior
prazer em conviver com o meu pai. Sim, eu posso dizer meu pai, porque tenho
tudo dele em todos os sentidos. Até nos dias de hoje, quando encontro com
amigos de infância do meu velho, eles falam: você é todinho o seu pai. Foi isto
que eu não detectei em nenhum dos três. Pelo contrário, os meus amigos
brincavam comigo e eu não alcançava a verdade: "Hércules, eles não tem
nada parecido com você, são todos parecidos com a mãe".
- Hércules, então jamais
os três vão cantar aquela música do Sérgio Bittencourt pensando em
você:
“naquela mesa está
faltando ele... e a saudade dele está doendo em mim...".
- Não importa Levi, tanto
a mesa deles quanto a minha estão vazias. A minha porque o meu pai já não está
mais comigo e a deles não sabem quem é o pai.