Recordando

sábado, 9 de novembro de 2013

NÃO ESTÁ FALTANDO ELE.

Nem sempre as pessoas querem saber da verdade.

A manhã de sábado começou com um lindo Sol. Ia descendo a Avenida Monsenhor Tabosa e encontrei o Hércules, Confesso, era muito cedo, menos de sete horas, não esperava encontrar pessoas conhecidas. A caminhada que eu havia programado, a conselho de um Professor de Educação Física, ficou para depois. Tive que escutar o meu amigo.
- Bom dia, como vai Leví? 
- Bom dia, Hércules. O que faz tão cedo por estas bandas?
- Ora, acordei e resolvi me relaxar um pouco e tentar esquecer a data de amanhã. 
- Como, não entendi! 
- Não, Leví, amanhã, uma das minhas filhas adotivas completa 31 anos. 
- Como filha adotiva? Você não é pai de um rapaz e duas moças?
- Nada disso, por muito tempo eu achei que eram meus filhos. Mas, depois que me separei fui tremendamente maltratado, humilhado e relegado a oitavo plano pelos três. Ora, eu nunca os maltratei! Tudo que pude fazer fiz por eles. Para não lhes tirar os status os deixei morando naquela mansão e só agora estou providenciando o divórcio. Sim, agora que todos estão bem de vida posso vender  o que consegui com muito sacrifício.
- Vamos lá, homem me explica o termo adoção. 
- Leví, antes do DNA existiam mais infidelidade conjugal do que hoje. Quando notei que nenhum dos três parecia comigo, comecei a desconfiar. E quando eram pequenos, ao cortarem o cabelo me davam sempre um pouco dizendo que era para eu guardar de recordação. E no ano passado, depois de ter mais uma decepção com a que fará anos amanhã, eu resolvi fazer os exames de DNA e o resultado foi que sempre fui pai adotivo e nunca pai biológico. 
- Hércules, eu pensei que eu tinha problemas, mas os seus são bem piores. E você levou ao conhecimento deles?
- No ano passado, exatamente em agosto, eu escrevi para essa aniversariante de amanhã e ela fingiu que não acreditou. A mais velha, que já até casou e é mãe, já havia me dado demonstrações que já sabia porque se desligou totalmente de mim. Inclusive, havia me desejado uma morte com o avião caindo quando em eu viajasse. O mais novo nem se fala. Este mesmo que não tem nada a haver comigo. Mas, o mais interessante é que a mãe deles sempre me xingava e de repente apareceu grávida do menino. E veja como são as coisas. Os nomes das meninas foram escolhidos pela minha irmã, mas o do menino a mãe fez questão de colocar o meu nome. Ora, Leví, como colocar o meu nome se ela vivia me criticando! Ela me criticava porque, mesmo ganhando como professora me contrariava ao se enveredar a caminho do Paraguai passando poluía a nossa casa com sacas e mais sacas de produtos contrabandeados. O meu nome no filho dela, talvez, tenha sido uma maneira de eu não desconfiar. Mas, a ponte caiu com os resultados do DNA. 
- Hércules, estou pasmo! 
- Nada disso, Levi, apenas não posso riscar o dia 09 de novembro. Mas, já superei e espero que sejam felizes e que o pai da aniversariante de amanhã vá abraçá-la e lhe dê de presente a verdade confessando: “sou o seu pai”. Porque eu sempre tive o maior prazer em conviver com o meu pai. Sim, eu posso dizer meu pai, porque tenho tudo dele em todos os sentidos. Até nos dias de hoje, quando encontro com amigos de infância do meu velho, eles falam: você é todinho o seu pai. Foi isto que eu não detectei em nenhum dos três. Pelo contrário, os meus amigos brincavam comigo e eu não alcançava a verdade: "Hércules, eles não tem nada parecido com você, são todos parecidos com a mãe". 
- Hércules, então jamais os três vão cantar aquela música do Sérgio Bittencourt pensando em você:
“naquela mesa está faltando ele... e a saudade dele está doendo em mim...".

- Não importa Levi, tanto a mesa deles quanto a minha estão vazias. A minha porque o meu pai já não está mais comigo e a deles não sabem quem é o pai. 


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