Recordando

sábado, 20 de outubro de 2012

CURIOSO NÃO TEM VEZ

JOÃO SALDANHA 



Até a década de 60, quando se dizia que o fulano de tal era treinador de futebol o respeito era dobrado. O futebol brasileiro era respeitado pelos treinadores que se aprofundavam e só se ouvia falar em Martim Francisco, Zezé Moreira, Aymoré Moreira, Gradim, Flávio Costa Ademar Pimenta. Outros estrangeiros como o uruguaio Picabéia, o paraguaio Fleitas Solich, o húngaro Bela Gutman e o argentino Filpo Nuñes vieram nos ensinar.  Com o passar do tempo os bons treinadores foram se aposentando e começaram a aparecer os candidatos ao cargo. Na sua maioria teórica que nunca haviam dado um chute na bola. E com a falta de bons profissionais que além de treinarem as equipes eram também os preparadores físicos, alguns comentaristas esportivos aprofundavam mais nos seus comentários dando a impressão de nunca perderiam uma partida de futebol. Quando a isso nada mudou. Os comentaristas ao final das partidas encontram sempre uma saída para dizer ao ouvinte ou telespectador que ganharia a partida. Por volta de 1968, a escassez de bons treinadores era tão grande que a antiga CBD – Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF – Confederação Brasileira de Futebol, convocou o comentarista esportivo João Saldanha para assumir o comando da seleção profissional de futebol do Brasil. A copa do Mundo de 70 se aproximava. O comentarista demonstrando uma grande inteligência e praticidade conseguiu êxito na fase de treinamentos. Foi objetivo e selecionou os jogadores que melhor estavam atuando como Rivelino, Tostão, Jairzinho, Gerson, Clodoaldo e Pelé. Esta turma maravilhosa de talentosos jogadores de futebol era tratada carinhosamente pela imprensa como “As feras do Saldanha”. Com um trabalho de muita psicologia e aproveitamento de todos que fossem bons de bola na seleção principal o João Saldanha classificou o Brasil para a Copa do Mundo. Infelizmente, pelo seu temperamento muito forte resolveu da noite para o dia entregar o cargo ao Presidente d CBF alegando que não estava suportando tanta pressão por parte dos próprios colegas comentaristas esportivos e de Presidentes de clubes que queriam escalar os seus jogadores. Realmente, depois que o João conseguiu a classificação até o Presidente da República Médici interferiu para que o Dario “Peito de Aço” ou o “Dada Maravilha” fosse à Copa do Mundo. João respondeu: “Ele escala o ministério e eu escalo a Seleção”.
No meio de tanta confusão, o Zagallo, mostrando também ser inteligente e sensato, assumiu o comando técnico da Seleção e foi tricampeão do mundo sem mudar o esquema do Saldanha.

A moda de comentarista esportivo treinar clube parecia que iria vingar no país. Na década de 80 surge o comentarista Ruy Porto. Entretanto, assim como não nasce todos os dias um Pelé ,também João Saldanha nos deixou e ficou uma lacuna. O Ruy Porto, na época comentava os jogos pela TV e Rádio Globo, depois de criticar bastante a forma de jogar do Flamengo não aceitou o convite para ser treinador. Era mais fácil criticar. Mas, o Mengão continuou sendo alvo daqueles comentaristas que tem soluções para tudo e tornar um clube invicto eternamente. Foi convidado e aceitou o convite, mas não ficou noventa dias no cargo porque viu que a sua teoria lhe daria mais retorno financeiro em uma cabine de rádio refrigerada.
Então há de perguntar: qual a razão do que está escrito acima? Muito simples, conheço há mais de 35 anos os bastidores do futebol e entendo que o talento de ser treinador de futebol não se encontra em qualquer um. A vida de treinador é cheia de muito sacrifício e o noto que colegas às vezes culposamente levam problemas para dentro da casa de treinadores fazendo criticas levianas. Por outro lado, as emissoras de radio e de televisão também estão incorrendo em erros quando contratam ex-jogadores de futebol que nada tem a oferecer de proveitoso ao ouvinte/telespectador já que passam horas e horas somente com críticas destrutivas. As coisas estão mudando e treinadores de futebol talentosos e vitoriosos como o Felipão, Joel Santana, Vanderlei Luxemburgo e Murici Ramalho já estão contestando aqueles “futuros” comentaristas de futebol quando estão sendo entrevistados em coletivas. Ainda bem porque João Saldanha só existiu um. Por muitas vezes era chamado de “João sem medo” pelas suas frases de efeito que ficaram na história do futebol.

Todo treinador de juvenis é meio homossexual. E todo treinador de qualquer categoria que defende a concentração, é candidato a corno.

"Campo de futebol não é loteamento. Ninguém é dono de lote, de posição fixa."

“Quando o presidente Médici formou o gabinete dele, não me consultou; de modo que para formar o meu time, não preciso perguntar a ele.”

 “Meu time é formado por onze feras. É preciso desafrescalhar essa história de canarinhos.”

 “Pelé é para o futebol brasileiro o que Shakespeare é para a literatura inglesa.”

 “Quatro homens, um ao lado do outro, só em parada militar.”

Leví Lafetá
Jornalista, Radialista, Administrador de Empresas, Bacharel em Direito e Escritor
lafeta_levi@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário