Dívida com a União acende sinal vermelho nas contas do governo de Minas
Comprometimento da receita de Minas com o pagamento da dívida com a
União, que já soma R$ 57,1 bi, deve saltar dos atuais 13% para 40%, a
partir de 2028, caso indexador seja mantido
Bertha Maakaroun -
Publicação: 02/08/2011 06:00 Atualização: 02/08/2011 07:46
A persistir o atual indexador da dívida dos estados com a União, a
partir de 2028 Minas Gerais terá de comprometer algo próximo a 40% de
sua receita líquida real para cumprir o contrato e quitar o “resíduo”
de seu débito até 2038. A alta carga de serviço da dívida – que entre
1998, quando foi negociada, e dezembro de 2010 acumula encargos de
684% – faz com que o saldo devedor original de R$ 14,8 bilhões tenha
alcançado em junho a cifra de R$ 57,14 bilhões, apesar de, no período,
o estado já ter pago cerca de R$ 19,7 bilhões. “É uma bomba-relógio
que vai estourar em 2028. O saldo do resíduo para alguns estados será
insuportável”, afirma o secretário de Estado da Fazenda, Leonardo
Colombini. Com ele faz coro o vice-governador, Alberto Pinto Coelho
(PP), em referência ao Índice Geral de Preços – Disponibilidade
Interna (IGP-DI), adotado para a correção monetária: “Esse indexador
transformou-se em monstro devorador dos recursos escassos de estados e
municípios, tornando-se o mais alto dos indicadores de correção”.
O problema não é exclusivo de Minas e mobiliza secretários de Fazenda
de todos os estados, que têm de lidar com as projeções da explosão do
saldo dos débitos ao fim dos 30 anos, a contar da negociação das
dívidas com a União em 1998. Para ter uma ideia do comportamento
galopante do saldo devedor de estados e municípios para com a União,
os pagamentos feitos pelos governos estaduais e prefeituras entre 2000
e 2010 somaram, segundo o Balanço Geral da União, R$ 199,8 bilhões.
Apesar disso, o saldo dessas dívidas mais do que dobrou em relação ao
valor nominal original, saltando para R$ 439,8 bilhões.
Mobilizados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), os
secretários estaduais de Fazenda já receberam sinalização favorável do
Ministério da Fazenda para dar sequência à negociação. “O governo vai
nos chamar para uma reunião extraordinária do Confaz neste mês, para
discutirmos a questão da dívida, além de avanços na revisão do ICMS”,
informa Colombini. O ministro Guido Mantega,já reconheceu publicamente
que o ideal seria trocar o IGP-DI pelo Índice de Preço ao Consumidor
Amplo (IPCA), ressalvando, contudo, o fato de a Lei de
Responsabilidade Fiscal impedir nova renegociação das dívidas.
A proposta de Minas levada ao Confaz é de que o indexador da dívida
dos estados esteja limitado ao custo da dívida da União. “Não seria
necessário mexer na Lei de Responsabilidade Fiscal. Bastaria um artigo
estabelecendo que a dívida dos estados seria corrigida como a da
União”, afirma Colombini, referindo-se ao fato de que a taxa Selic,
normalmente empregada pelo governo federal, foi de 9,5% no ano
passado. Já a correção da dívida de Minas no ano passado foi de quase
20%: 7,5% de juros mais 11,3% IGP-DI.
Opinião semelhante manifesta o economista tributarista Fabrício
Augusto de Oliveira, que tem elaborado estudos para órgãos públicos
sobre a dívida de Minas. Para ele, os encargos da dívida são absurdos.
“Entre 1998 e 2010, passamos por vários anos de muita turbulência
econômica e a taxa média Selic, que remunera os títulos do governo,
teve variação acumulada de 650%. Já a correção da dívida de Minas com
a União no período foi de 684%. Isso significa que o governo federal
está obtendo ganhos líquidos com os estados”, afirma. Para Fabrício
Oliveira, em 2028, a dívida dos estados será “impagável”.
DESCOMPASSO
O que explica o crescimento vertiginoso do saldo da dívida contratual
de Minas com a União é o descompasso entre a correção do IGP-DI, que
alimenta o débito e tem influência sobre as exportações e o câmbio, e
o IPCA, índice utilizado para as projeções orçamentárias do estado,
que tem no ICMS a sua principal fonte de receita. Em 1998, os estados
renegociaram por 30 anos as suas dívidas com a União, adotando a
indexação do IGP-DI, acrescidos de juros, que variaram entre 6% e 9%,
dependendo do abatimento da dívida inicial prevista no contrato. Minas
e Pará abateram 10% e, por isso, contrataram juros de 7,5%. São Paulo
e Rio de Janeiro, abateram 20% e têm juros de 6%. Enquanto Minas paga
ao ano 13% de sua receita líquida real, muito influenciada pelo IPCA,
o saldo da dívida é corrigido pelo IGP-DI. “A disparidade entre o que
se paga – como juros e indexadores da dívida – e a receita que
alimenta esse mesmo pagamento é grande”, considera Alberto Pinto
Coelho.
No ano passado, a receita líquida real de Minas foi de cerca de R$ 25
bilhões, portanto, o estado desembolsou R$ 3,25 bilhões, mas
incorporou com a correção e os juros cerca de R$ 10 bilhões ao saldo
devedor.
Sr. Levi,
ResponderExcluirParabéns pelo seu Blog e pelos temas abordados.
Conheço e frequento a cidade de Coração de Jesus a quase 40 anos. Vamos torcer e fazer cobranças às autoridades competentes, para que retornem àquela sofrida população, os frutos dos produtos encontrados naquele rico subsolo. Continue assim. Se dependermos da grande mídia, nada será divulgado.
Abraços,
Lázara Rabelo de Araújo