Você já notou que o “acerto” quase nunca é propalado com a mesma velocidade que o “erro”?
Por que digo isso? Simples!
Há poucos meses, sabe-se lá de quem foi a autoria, a frase “OBRIGADO EU” disparou na preferência popular, desbancando até mesmos os já clássicos “Nóis vai” e a “Gente fomos”.
Errar é humano, todavia, cometer o mesmo erro é perigoso, até porque, atrás de cada palavra há um indivíduo detentor de competências, ainda que às vezes, devido à qualidade do ensino público, essas mesmas competências estejam alicerçadas por frágeis conhecimentos.
Assim, para os mais escolarizados, erros dessa natureza causam graça, piadinha de mau gosto, expondo os mais desprotegidos culturalmente ao constrangimento, ainda que velado, o que é pior.
Toda forma de discriminação lingüística é abominável, ainda, não se pode julgar a índole de um cidadão só porque ele cometeu uma gafe; mas não é o que acontece.
Já tive notícias de que certas empresas de seleção testam justamente o candidato na hora do agradecimento, assim, ao pronunciar o tal “Obrigado EU”, toda sua prova pode ser desconsiderada e o emprego repassado ao candidato seguinte.
Isso é crime? Se considerarmos a discriminação vernacular, sim; mas a dificuldade está em se provar essa discriminação, até porque, ela acontece, como já disse, na surdina, dentro de uma sala, trancada a sete chaves.
E aos críticos mais serenos, uma informação extra-oficial: o suposto erro também é cometido por profissionais de carreira, cujo salário os coloca no topo da pirâmide social, diferentemente do que afirma uma pequena parcela de gramáticos adeptos à filosofia do quanto mais pobre, pior.
Quer uma prova? Então vamos lá!
Dias desses, em um grande banco estrangeiro de origem espanhola, a gerente, com o sorriso clareado à mostra, apertou minha mão e disse, pasmem, repetidamente: “Obrigado EU!”.
Naquele momento, desculpem-me a franqueza, levantei, dei dois passos em direção à escadaria, retornando em seguida.
Vendo-me de novo, a gerente perguntou: “Esqueceu algo, senhor Carlos?”
Ainda que intimidado, aleguei que sim!
Então, revirando os papéis de sua mesa antes mesmo que eu anunciasse o tal “objeto” motivador de meu retorno, perguntou-me: “O que seria? Por acaso o celular, o Rg, o CPF...?”
Com o sorriso tímido estampado à face, pedi para que ela se sentasse; foi quando, após respirar profundamente, revelei o motivo de meu retorno: “Querida... desculpe-me a sinceridade, mas eu não esqueci nenhum objeto em sua mesa; pelo contrário, esqueci apenas de informá-la de que a expressão “OBRIGADO EU!” é incorreta, porque sendo o EU um pronome pessoal do caso reto, ele não deve aparecer em final de frases, mas apenas no início, em que desempenha o papel para o qual foi criado: praticar uma ação e não recebê-la, como aconteceu no modelo em epígrafe.
O mais provável, ainda que estranho à sintaxe portuguesa, seria se utilizar da expressão “Obrigado MIM”, porque este pronome é quem recebe uma ação desencadeada pelo sujeito. Veja um exemplo clássico: “Este lápis é para mim?”
Visivelmente desnorteada, a moça pegou um lenço de papel e passou-o no rosto, limpando o suor, que lhe caía em abundância..
Ao invés dela pedir que eu procurasse minha “turma” – por que saber se é o Eu quem pratica uma ação e não O Mim?, solicitou que eu continuasse.
A expressão considerada mais adequada à situação seria: “EU QUE AGRADEÇO!”, ou simplesmente, remetendo-se às normas gramaticais alcaides, o popular “DE NADA!”
Levantei-me e, antes que ela pudesse dizer algo, fui-me embora; apesar de instruir uma pessoa - papel que me é delegado pelo meu cargo, senti-me constrangido, afinal, o que ela poderia ter pensado de mim? Talvez um excêntrico ou mesmo um tremendo idiota.
Já em casa, algumas horas depois, abri o e-mail e, para minha surpresa, havia a seguinte notinha:
“Prezado senhor Carlos Mota, se o senhor não tivesse a coragem de me corrigir, quantos outros “Obrigados EU” eu poderia ter dito, por plena inocência?
De certa forma, esse erro poderia pôr em risco o meu próprio cargo no banco, afinal, relaciono-me com clientes de toda natureza e falar errado torna-se um “motim”, em caso de uma suposta concorrência profissional interna.
Como retribuição ao seu gesto, faço questão de dizer tantas vezes quanto forem necessárias: “EU QUE AGRADEÇO A SUA SINCERIDADE!”
CORAÇÃO DE JESUS MG X PIRAPORA MG
ResponderExcluirCem anos de diferenças.
Duas cidades do Norte de Minas próximas de completar 100 anos de emancipação política, duas cidades distintas. Distintas por quê? As duas não vão completar cem anos? Esta e uma pergunta que ecoa de algumas pessoas quando indago a respeito. Na verdade as duas completarão cem anos, mas os rumos tomados por cada uma delas, são diferentes, leva-nos a refletir por que uma evolui tanto, e a outra continua na mesmice.
Ao analisar a real situação das duas, me deparei com uma grande diferença, por que Pirapora e mais evoluída que Coração de Jesus? Óbvio, seria uma pergunta fácil de ser respondida, por qualquer cidadão de ambas as cidades. “Pirapora é banhada pelo rio São Francisco, tem o turismo ao seu favor” outro diria “Pirapora teve a estrada de ferro que contribuiu para o progresso da cidade...” E Coração de Jesus, o que tem? Na verdade Coração de Jesus, não e banhada pelo rio São Francisco, e nem sequer teve estrada de ferro, ou até mesmo BR cortando a cidade, para contribuir para o seu progresso. Mas se tivesse isto ao seu favor seria uma cidade evoluída? Acredito que isto só não bastaria... O fato de uma cidade ter muitos recursos ao seu favor não quer dizer que esta cidade, se tornará uma cidade de progresso, Pirapora teve estes benefícios ao seu favor, mas teve também pessoas que souberam explorar estes benefícios para a evolução da cidade. Muitos foram os projetos implantados em Pirapora, para torná-la uma cidade de médio porte que é hoje.
Já Coração de Jesus, também teve, e ainda tem recursos, que se fossem bem explorados, poderiam ter deixado a cidade no mesmo nível de Pirapora, ou num patamar melhor, mas não houve pessoas compromissadas com o seu desenvolvimento, uma região rica em sítios arqueológicos, rios, tudo isto poderia ter sido explorado e contribuído para o seu desenvolvimento, mas devido à falta de interesse dos governantes a cidade não se desenvolveu. Acredito que se a riqueza da cidade tivesse sido explorada, a população corjesuense hoje, estaria desfrutando de uma boa economia, tendo a cidade como ponto turístico e uma boa infra-estrutura.
A realidade está aí para todos verem, pois Pirapora, prestes há completar cem anos, com muitas histórias e progresso para comemorar, enquanto isto, Coração de Jesus com toda a sua história, prestes também a completar cem anos, nada tem para mostrar.
Autor: Dionísio Alves Lima
Professor e Blogueiro.