Museu do índio
Endereço:
Rua das Palmeiras 55 Rio de Janeiro - RJ Telefone : 21 - 2286-8899
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Poder, arbitrariedade, resistência
Cleonice Pitangui Mendonça
Antropóloga
A conquista de um povo está na força de
um sonho e na coragem de um guerreiro.
Índio Xohã
(Inscrição na parede do Museu do Índio - Maracanã)
No ano em que comemoramos 90 anos do nascimento de Darcy
Ribeiro uma de suas obras, o Museu do Índio, por ele criado no bairro Maracanã
em 1953, recebe um ataque do poder do Estado do Rio de Janeiro. Em nota oficial,
expedida em 18.12.2012, o Governador Sérgio Cabral anuncia a
demolição do Museu para oferecer uma mobilidade maior às pessoas no entorno do
Maracanã durante a Copa do Mundo em 2014[1]. O Museu, única instituição oficial no país
dedicado exclusivamente às culturas indígenas, foi transferido para o bairro do
Botafogo em 1978[2]. À época da vigência do Museu próximo ao
Maracanã, o Marechal Rondon e Darcy Ribeiro costumavam ali receber os
índios.
A falta de visão do
Governador com essa atitude, eliminação de um bem cultural de significado ímpar
para a nossa história e cultura, causa-nos estranheza, pois nos faz pensar que o
DD Governador parece não conhecer que esse BEM CULTURAL faz referência aos
primeiros povos que habitavam a terra a se transmutar no país Brasil. Falta
maior penso eu, é não capitalizar o Museu para a Copa de 2014 tombando-o,
recuperando-o, preservando-o e o transformando num exemplo positivo de como o
Estado trata os nossos primeiros habitantes, num país formado de diferentes
humanidades, como diria Darcy Ribeiro. Existe vitrine melhor para a visita de
turistas do mundo inteiro que estarão aqui para a Copa do que esta?
Situada ao lado de um dos nossos maiores estádios, onde ocorrerá parte
dos jogos?
A nossa Carta Magna
dispondo sobre a Cultura, diz em seu Art. 216 “Constituem patrimônio cultural
brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, (...)”. Neste sentido,
cabe ao IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, já acionado, tomar
as medidas necessárias para o reconhecimento do imóvel como patrimônio cultural.
Uma movimentação em defesa
desse nosso patrimônio foi iniciada pela Fundação Darcy Ribeiro com o lançamento
de um manifesto no dia 26 de outubro de 2012, dia do aniversário de noventa anos
do Darcy Ribeiro e pelos indígenas, que ora ocupam o prédio, realizando, no
último final de semana, rituais de canto e dança como forma de resistência não
violenta. Os indígenas que tradicionalmente nos oferecem lições de como lidar na
preservação do meio ambiente, agora nos ensinam sobre a defesa do patrimônio,
deles e do nosso. Esperamos que as autoridades competentes detentoras do poder
político de decisão ajam em consonância com tais ações em favor da não
destruição do imóvel, acatando laudo do IPHAN a favor da preservação do
prédio[3].
Ao receber o título de
Doutor Honoris Causa pela Sorbonne em 1979, Darcy Ribeiro aceitou a honraria
pelos méritos de seus fracassos que, no entanto, atestavam a sua dignidade. Um
deles era a luta em defesa dos índios do Brasil que continuavam condenados à
aniquilação haja vista, hoje, a situação dos Guarani-Kaiowá, com grande
repercussão e causando espanto no mundo. A preservação do Museu do Índio deve
mostrar uma visão de Estado que faça jus aos nossos primeiros habitantes,
apontando na direção de uma política de direitos tão cara ao discurso oficial.
Darcy Ribeiro
dizia que somos uma nova Roma, tardia e tropical, construindo-nos como uma nova
civilização, orgulhosa de si mesma. “Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor,
porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à
convivência com todas as (...) culturas[4].”
O ato do
Governador Sérgio Cabral aponta para o oposto.
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