Recordando

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ruy Barbosa : SINTO VERGONHA DE MIM



Ruy Barbosa
                                                            
                         Sinto vergonha de mim  por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça,  por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade  e por ver este povo já chamado varonil    enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim   por ter feito parte de uma era  que lutou pela democracia, pela liberdade de ser  e  ter que  entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligencia com a família, célula-mater da sociedade,  a demasiada preocupação  com o "eu" feliz a qualquer custo,  buscando a tal "felicidade"  em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo,  a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade   para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar  atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás      e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim , pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos  que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões  e do meu cansaço.Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar  meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
                          De tanto ver triunfar as nulidades,
                          de tanto ver prosperar a desonra,
                          de tanto ver crescer a injustiça,
                          de tanto ver agigantarem-se os poderes
                           nas mãos dos maus,
                          o homem chega a desanimar da virtude,
                          a rir-se da honra,
                          a ter vergonha de ser honesto.
                                                                
          por Ruy Barbosa

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